Tratamento com estimulação elétrica permite que três pacientes paraplégicos consigam andar.
4 maneiras de tocar uma cadeira de rodas.
Há algum tempo me deparei com uma postagem no Instagram que me chamou bastante atenção e achei bem curiosa. O perfil da @spinergywheels havia compartilhado uma publicação de @annasarol que falava a respeito dos padrões de propulsão de cadeiras de rodas manuais.
Tudo bem, eu sei que não parece muito interessante, mas simplificando... estudaram a maneira como as pessoas tocam as cadeiras de rodas e descobriram que existem basicamente quatro padrões diferentes de propulsão: Semicircular, Arco, Loop Único e Loop Duplo. Pra não me alongar muito, vou usar o texto traduzido da própria postagem e o vídeo, que é autoexplicativo.
Fonte: https://www.instagram.com/reel/CS933cDp-gE/?utm_source=ig_web_copy_link
"Me deparei com um estudo público intitulado 'A influência do padrão manual de propulsão da cadeira de rodas na força e estresse muscular da extremidade superior'.
O estudo descobriu que existem quatro padrões principais para impulsionar uma cadeira de rodas manual, cada uma com suas próprias vantagens e desvantagens.
1) Semicircular
2) Arco
3) Loop Único
4) Loop Duplo
Aqui estão algumas dicas importantes a serem consideradas:
🌟 Estresse Muscular de Ciclo-completo: Mais baixo: Loop Duplo // Mais alto: Arco
🌟 Potência Muscular Total: Mais Eficiente: Loop Duplo e Semicircular
🌟 Fase de Contato: Mais Longa: Semicircular e Loop Duplo // Mais Curta: Arco e Loop Único
'Esses resultados sugerem que, para diminuir a demanda dos membros superiores, os usuários de cadeiras de rodas manuais devem considerar o uso do padrão duplo ou semicircular ao impulsionar suas cadeiras de rodas'
(Slowik, 2016)."
Bom, para o público em geral talvez nem seja tão interessante. Mas para os profissionais de áreas afins e cadeirantes, como este que vos fala, é uma informação bem relevante.
E aí, o que vocês acham?
Por hoje é só! Fico por aqui e até a próxima!
Uma "cura" colocada à venda
Ontem quando eu abri o YouTube tomei conhecimento da notícia de que um tratamento (supostamente) promissor para a lesão medular tinha recebido autorização para ser comercializado. De cara, o vídeo do canal Tocando a Vida, do Marcos Melo Jr., me chamou a atenção pelo título: "Venda da cura para Lesão Medular". Se você não conhece o canal vale à pena dar um espiada, o cara sempre faz vídeos muito lúcidos e esclarecedores.
Neste vídeo, o Marcos cita um artigo publicado na revista Nature, uma publicação científica mundialmente respeitada, com o seguinte título: "Japan’s approval of stem-cell treatment for spinal-cord injury concerns scientists", ou em bom português: "Aprovação de tratamento para lesão medular com células-tronco no Japão preocupa cientistas". O primeiro fato a se estranhar é a notícia ter vindo do Japão, país que é referência de seriedade, disciplina e modelos de comportamento. Mas partindo daí, já podemos chegar à conclusão de que existe gente inescrupulosa em qualquer parte do mundo. "Mas, por quê? Não é uma boa notícia?", você me pergunta...
Seria uma ótima notícia, claro. Não fosse o fato de que o experimento conduzido na "Terra do Sol Nascente" ter desrespeitado procedimentos reconhecidos internacionalmente para garantir a segurança das pesquisas em saúde.
De acordo com o artigo, 12 de 13 pacientes submetidos ao procedimento nos últimos seis meses apresentaram melhoras substanciais na capacidade de contração muscular e sensibilidade ao toque. O problema começa no fato de que 13 pacientes representam uma amostra muito pequena e seis meses um período muito curto para chegar a qualquer conclusão. A metodologia ainda foi criticada pela falta do duplo-cego, um método de ensaio clínico no qual nem os médicos nem os pacientes sabem quem está recebendo o tratamento experimental e quem está recebendo um placebo.
O objetivo é garantir a eficácia do tratamento, de forma a esclarecer se as possíveis melhoras apresentadas pelos pacientes são efeito do tratamento ou apenas motivadas por fatores psicológicos. Outro fato questionável é que todos os pacientes do grupo tinham sofrido a lesão na medula até 40 dias antes do procedimento a que foram submetidos. Nesta fase, fica difícil determinar se as melhoras obtidas se devem ao procedimento em si ou são melhoras espontâneas decorrentes dos tratamentos convencionais e da fisioterapia.
Apesar desses e de outros problemas da metodologia aplicada no estudo, há uma grande questão ética. Afinal de contas não é moralmente justificável cobrar dos pacientes por terapias cuja eficácia ainda não foi comprovada e que podem apresentar riscos.
De toda sorte, não quero aqui bancar o pessimista. Eu adoraria receber a notícia de uma cura, ou mesmo de um tratamento eficaz que resolvesse ao menos uma parte dos problemas que vêm com a lesão medular. Mas acho que tem muita gente por aí disposta a se aproveitar do desespero e da fragilidade das pessoas para ganhar alguma vantagem.
O artigo, em inglês, foi publicado em janeiro deste ano, mas só chegou ao meu conhecimento agora pelo vídeo do Tocando a vida e está lincado logo acima pra quem quiser dar uma olhada e saber mais a respeito. No mais, é isso aí. Beijos nas crianças e até a próxima.
Uma luz de alerta.
Hoje uma matéria publicada no site da Revista Galileu me chamou a atenção. O título por si só já acende um alerta: "Doença similar a paralisia infantil assusta os Estados Unidos". Apesar de não ser o meu caso, já que sofri uma lesão medular há 12 anos, conheci bastante gente acometida pela poliomielite (pra falar o nome correto) ao longo desses anos e sei que a doença é muito grave e gera um fardo pesadíssimo a ser carregado, especialmente por uma criança.
"São quase 400 casos da doença com sintomas semelhantes ao da poliomielite, que foi praticamente erradicada em todo o mundo", diz o subtítulo. O que já mostra que o fato não pode ser ignorado. As crianças atingidas receberam o diagnóstico de mielite flácida aguda (MFA). Os estudos ainda são muito recentes, mas nas últimas ondas da doença, em 2014 e 2016, os cientistas apontaram um parente do poliovírus, chamado enterovírus D68 (EV-D68), como um possível culpado.
Ainda não existem evidências conclusivas e muitas dúvidas ainda pairam no ar, como por exemplo por que o vírus paralisa apenas uma pequena minoria das crianças que infecta. Os sintomas iniciais se assemelham aos de um simples resfriado, com tosse, espirros e febre moderada, por isso o enterovírus nem sempre é diagnosticado e ninguém sabe o quão é comum. Apenas nos poucos casos em que a doença avança, as crianças apresentam uma súbita perda de controle muscular.
Disreflexia Autonômica - Parte II
Bom, depois se sofrer por algum tempo com os inconvenientes causados pela disreflexia resolvi ir ao médico (já faz mais de dois meses, mas só agora decidi falar a respeito). Pois bem, fui visitar o meu competentíssimo neurologista e expliquei pra ele o que vinha acontecendo. Tivemos uma longa conversa sobre o meu caso e também outras amenidades. Ele ouviu atentamente as minhas queixas, expliquei que já tinha identificado o gatilho que disparava os sintomas da disreflexia: o calor. Meu corpo não estava conseguindo regular bem a temperatura, minha transpiração, que é afetada pela lesão medular, não estava funcionando. Aí o motor véio acabava superaquecendo.
Ele me explicou que a disreflexia, assim como outras formas de disautonomia, eram comuns em pacientes neurológicos. Contou-me a respeito de outros casos que passaram por ele e me deixou bem tranquilo. Me explicou que em alguns casos é possível usar medicamentos que ajudam a inibir ou pelo menos reduzir as reações e me solicitou alguns exames.
A disreflexia realmente estava me incomodando muito, a ponto de atrapalhar o meu convívio social. Eu já estava evitando alguns lugares e situações que pudessem me expor ao calor e, se continuasse daquele jeito, ia acabar virando um recluso.
Pois bem, realizei os exames e o único problema detectado, como ele suspeitava, foi uma deficiência de Vitamina D. Não, isso não tem nenhuma relação direta com a disreflexia, mas pode ocorrer na minha condição e ele queria se certificar. Ao analisar os exames, ele me passou apenas a reposição oral da vitamina por alguns meses. Me explicou que, ao pesquisar o meu caso, descobriu que lesões como a minha não respondem bem ao medicamento. Solução? Não tinha solução, eu só poderia adotar um comportamento de fuga ou esquiva. Continuar fazendo o mesmo...
Mas eu não queria ficar brigando com o calor, senão toda vez que meu corpo aquecesse eu teria que parar a atividade e resfriá-lo, para que aos poucos a tolerância ao calor aumentasse, a transpiração se autorregulasse, até que eu me visse livre de novo. Pensei em começar a nadar e parece que está funcionando. As crises já vinham ficando menos constantes, mas, coincidência ou não, acredito que a natação tem ajudado. Ultimamente as coisas estão bem mais tranquilas.
Essa vida de lesado medular não é fácil. Mas, aleijadinhos e aleijadinhas do meu Brasil, se a gente não der um jeitinho nos problemas nunca veremos solução. Bom, essas foram as últimas novidades, aguardem cenas dos próximos capítulos.
Pelo coração dos cadeirantes.
Não, este post não fala de amor e romance envolvendo cadeirantes. Este é o título de uma matéria recém publicada na revista Runner's de novembro de 2013, que revela uma pesquisa inédita feita pela Unicamp exclusivamente com cadeirantes vítimas de lesão na medula espinhal, que é o caso deste jovem que vos fala.
Não é nenhuma novidade que a prática de exercícios físicos traz muitos benefícios à saúde de qualquer praticante, mas essa pesquisa fechou um pouco mais o escopo e analisou um grupo muito específico de malacabados: os lesados medulares.
Resumindo a história...Os pesquisadores avaliaram um grupo de cadeirantes que jogavam regularmente basquete, tênis, rúgbi ou handebol há pelo menos um ano e os resultados foram pra lá de animadores.
Os números conhecidos indicavam que de 30 a 50% de quem sofreu lesão na medula apresentava algum problema cardíaco após dez anos do acidente, na população geral esse índice fica entre 5 e 10%. Sentiu o drama? A boa notícia é que, mesmo com a limitação dos movimentos, no grupo de cadeirantes ativos o coração trabalha com mais vigor, bombeando mais sangue e oxigênio para o corpo todo, além disso há uma escassez de placas de gordura nociva acumuladas em seus vasos sanguíneos.
Agora o mais interessante. Os cientistas notaram que entre os indivíduos com lesão medular em geral havia um espessamento da parede das carótidas, artérias situadas no pescoço que levam o sangue para o cérebro, o que favoreceria o aparecimento de placas ali. Mas entre os que praticavam esportes, o estado dessas artérias ficava dentro dos parâmetros normais.
Posso falar por experiência própria. Sempre pratiquei esportes, mas parei durante o processo de reabilitação. Quando voltei a praticar exercícios após a lesão medular, que no meu caso se deu com o basquete, não demorei a perceber os resultados. Houve uma melhora nítida na respiração, no equilíbrio, na força muscular... e por que não dizer também na autoestima, autoconfiança, nas relações interpessoais, etc. Hoje já não pratico mais o basquete em cadeira de rodas, mas continuo com as minhas atividades. Agora é a vez do paraciclismo, estou pedalando a minha handbike há mais dois anos.
Nós que fomos abatidos pela guerra estamos mais sujeitos a apresentar uma série de problemas de saúde, mas a boa notícia é que a prática regular de exercícios pode derrubar essa probabilidade a níveis muito mais baixos. E você, tá esperando o que pra se movimentar?
O botox e a bexiga hiperativa. Parte 2 - A missão
A perda de movimentos é a sequela mais visível para quem sofreu uma lesão medular, mas não é a única. Dentre os mais complicados está a bexiga neurogênica, que é uma disfunção urinária causada, neste caso, pelo trauma no sistema nervoso central. A bexiga neurogênica pode ser hipoativa (incapaz de contrair e esvaziar completamente) ou hiperativa (esvaziando por reflexos incontroláveis), no meu caso, a segunda predomina.
Para melhorar a convivência com essa situação adota-se o uso de medicamentos anticolinérgicos, que inibem essas contrações involuntárias, combinados com o autocateterismo, que é a passagem de uma sonda pela uretra para esvaziar a bexiga em intervalos regulares (o que já é um grande impacto na qualidade de vida, mas ainda a melhor opção). Acontece que em alguns casos a resposta a esse tratamento não é eficiente e é preciso buscar outras alternativas, é aí que entra a toxina botulínica.
O botox, como é conhecido, é aplicado em alguns pontos da musculatura responsável por essas contrações, paralisando-as temporariamente. É exatamente a mesma substância utilizada nos procedimentos estéticos para acabar com as temidas rugas. Em outubro de 2010 me submeti ao procedimento e percebi uma melhora sutil, mas que não teve um grande impacto na minha qualidade de vida, as urgências miccionais diminuíram um pouco, mas eu esperava mais e aquilo foi um tanto desanimador.
Agora, três anos depois, cansado dessa convivência conflituosa, resolvi tentar de novo. Esperei cerca de um mês pra relatar as minhas impressões e posso dizer que dessa vez o resultado foi bem melhor. Me sinto muito mais confortável sem precisar ficar mijando toda hora. Mas é claro que não é uma solução mágica, o autocateterismo (ou cat, como nós malacabados chamamos carinhosamente), continua fazendo parte da rotina. Já o uso dos medicamentos pode ser suspenso por completo em alguns casos enquanto o efeito da toxina está ativo, não foi o que aconteceu comigo. Fui diminuindo gradativamente o uso dos remédios até parar completamente, mas percebi que ainda precisava de uma "ajudinha" medicamentosa e retomei o uso, desta vez com uma dose bem menor.
O efeito da toxina dura alguns meses e vai perdendo força gradativamente, de forma que o procedimento precisa ser repetido ao longo do tempo. Mas é um procedimento bem simples, uma cirurgia sem cortes, feita via uretra e sem pré nem pós-operatórios complicados. Claro que passar por uma internação e todo esse processo é um pouco cansativo e, como eu disse, o botox não é uma solução mágica, mas uma alternativa por uma melhor qualidade de vida.
À medida que for percebendo as mudanças venho contá-las por aqui, além de outros assuntos interessantes a serem abordados no blog. Sei que tenho andado muito ausente do "Rodas", mas vou tentar movimentar um pouco as coisas. E assim a gente vai levando, foco no presente e bola pra frente.
Beijos nas crianças!
Pilates
Nessa etapa, o simples fato de ter uma vida ativa já não me cansava mais, eu podia levantar pela manhã e ter um dia ocupado sem que aquilo me deixasse completamente esgotado (fato comum nos primeiros anos de lesão). Já praticava o basquete em cadeira de rodas há algum tempo, então o meu condicionamento e força tinham melhorado consideravelmente. Voltei a dirigir, estudar, trabalhar e passei a levar a vida da melhor maneira que me fosse possível. É um momento de transição bem difícil, mas necessário.
Todo mundo precisa se cuidar, isso é fato. As pessoas já sabem há muito tempo da importância de praticar alguma atividade física, mas muita gente ainda prefere continuar sedentária. Mas quando a gente tem uma deficiência, essa necessidade se torna ainda mais urgente. No meu caso, com a lesão medular, que restringe vários movimentos, é importante manter a saúde articular e o alongamento dos músculos pra mantê-los em boas condições e evitar problemas futuros. Então, depois de algum tempo decidi que precisava continuar me cuidando de alguma forma que não me causasse um desgaste mental tão grande e imaginei que o Pilates poderia me ajudar. Indicado pelo fisioterapeuta que já dava aulas pra minha mãe, cheguei a um Studio que tinha boa acessibilidade aqui perto da minha casa e falei diretamente com César, que é fisioterapeuta e dá aulas de Pilates. A partir daí, comecei a frequentar duas vezes por semana.
Nesse tempo já mudamos a série, criamos novas posições e exercícios que me permitem exercitar a musculatura de várias formas. Com o conhecimento técnico e científico de César, uma boa dose de criatividade e o meu feedback, os exercícios foram surgindo. Esses são apenas alguns dos que eu realizo por lá e continuamos criando. O importante é não ficar parado.
Como falava uma das músicas de Michael Jackson: "Don't stop 'till you get enough" ("Não pare até que esteja satisfeito", ou "Só pare quando se satisfizer").
Avaliação no Sarah Lago Norte
No fim da consulta resolvi conversar com o médico a respeito da possibilidade de uma passagem pelo Sarah Lago Norte. Pra quem não sabe, em Brasília o Sarah tem duas unidades: Centro e Lago Norte. O Sarah Centro tem mais cara de hospital, recebe muitos pacientes com lesões recentes ou que ainda estão no início do processo de reabilitação. No Lago Norte ocorre uma etapa mais avançada desse processo, não é um hospital, serve mais como um treino avançado para pacientes que querem se tornar ainda mais independentes e adequar-se melhor à sua realidade.
É uma instituição que tem um pouco de cara de colônia de férias, os pacientes treinam de acordo com a sua rotina diária, praticam esportes e tentam se tornar mais independentes. Ir pro Lago Norte é uma ótima opção para um cadeirante que pretende morar sozinho, por exemplo. Foi lá que o ex-BBB Fernando Fernandes descobriu a canoagem, que acabou tornando-o bicampeão mundial. Lá não existem pacientes com problemas clínicos, quem vai está em plenas condições físicas, exceto pela deficiência, claro. Como eu tenho uma fratura no fêmur em decorrência do acidente que nunca consolidou, não me permitiam ir pra lá, mas agora isso já nem foi mais considerado. A haste e os parafusos estão fixando o osso e isso não representa nenhum perigo; então estou liberado.
Pois bem, o médico do Centro enviou um e-mail para a equipe do Lago Norte, que entrou em contato comigo alguns dias depois e marcou uma avaliação para o último dia 13 de agosto. Acho que o objetivo dessa avaliação, que se resumiu a uma conversa de mais ou menos meia hora, era averiguar se eu tinha condições e o perfil para uma passagem por lá. Ficou combinado que eles entrariam em contato comigo para que eu fosse na segunda quinzena de outubro, mas ainda não sei a data exata.
O que eu espero dessa passagem? Nenhum milagre, de fato, nenhuma grande revolução no meu caso, já passei dessa fase. Quero aprender a conviver melhor com a minha realidade, parafraseando Nelson Rodrigues: A vida como ela é. Vamos embora que o tempo não para.
Mais uma experiência com células tronco
Duas teses em andamento na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP utilizam injeções de células-tronco em cães com lesões crônicas de coluna lombar e com restrições de movimento. A iniciativa, aliada fisioterapia pós-operatório, já apresenta resultados promissores: alguns dos animais que receberam injeções de células-tronco voltaram a apresentar movimentos.
As pesquisas são realizadas pelos médicos veterinários Carlos Alberto Palmeira Sarmento e Matheus Levi Tajra Feitosa junto ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terapia Celular (INCTC) com colaboração do Hemocentro de Ribeirão Preto. Carlos Sarmento trabalha com células-tronco extraídas de medula óssea fetal canina proveniente de campanhas de castração. Já Matheus Feitosa utiliza células-tronco obtidas da polpa de dente de leite de crianças.
“Analiso os resultados do meu trabalho com bastante otimismo, apesar de saber que é necessário um trabalho de fisioterapia contínuo. Mas acredito que com esta e outras pesquisas, os estudos envolvendo células-tronco possam apresentar resultados cada vez melhores”, aponta Carlos Sarmento, que é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A pesquisa é orientada pela professora Maria Angélica Miglino, da FMVZ, e deve ser defendida em 2012.
Veja abaixo o vídeo produzido pela Agência USP de Notícias / Mídias Online
Já Matheus Feitosa pondera que “Apesar de promissores, os resultados são fruto de pesquisas em animais e até se chegar a terapias válidas para seres humanos, ainda teremos um longo caminho pela frente. Por isso, não podem ser encarados como uma possível cura para humanos com lesões medulares”, ressalta, lembrando da importância da realização de outras pesquisas na área. Feitosa é bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O professor Carlos Eduardo Ambrósio, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, é o orientador da pesquisa, que tem defesa prevista para o final de 2011.
Os dois pesquisadores realizaram os testes em cães considerados “desenganados” pela medicina veterinária: com lesões crônicas de coluna há anos ou vários meses e que têm graves dificuldades motoras, como perda severa de sensibilidade nas patas traseiras, e que já realizaram cirurgia para corrigir a lesão, sem resultados satisfatórios, ou que estavam passando por tratamentos alternativos como acupuntura e fisioterapia sem apresentar melhora no quadro clínico.
Um dos diferenciais do projeto, de acordo com os pesquisadores, é que a solução de células-tronco é injetada tanto no local exato da lesão da coluna lombar como também um pouco antes e um pouco depois do lugar lesionado. Um exame de ressonância magnética fornece um diagnóstico preciso do local exato da lesão. Após a cirurgia, os animais continuam fazendo fisioterapia cerca de três vezes por semana em sessões de aproximadamente 1h30, durante três meses, com a finalidade de estimular a musculatura, que estava atrofiada. Este trabalho de fisioterapia veterinária é realizada na clínica da doutora Helena Sakata.

Resultados
Carlos Sarmento já realizou a cirurgia de aplicação de células-tronco em 3 cães ao longo do mês de abril: no dia 11, no daschund Fred, que tem atrofia e contratura muscular; no dia 12, no daschund Bola, que apresenta somente atrofia, e, no dia 25, no lhasa apso Bond, que apresenta somente atrofia muscular. “As lesões desses três animais são idênticas, mas o comprometimento muscular é distinto”, esclarece.
O cão Bond mostrou os resultados mais satisfatórios até agora: tenta levantar as patas traseiras, voltou a abanar o rabo (o que não fazia antes da aplicação com células-tronco), consegue apoiar as duas patas traseiras na esteira aquática e “anda” dentro d’água, sem nenhum apoio. Os pesquisadores utilizaram uma escala comportamental para avaliar a locomoção dos animais (escala de Olby et al) que varia de 0 (nenhum movimento) a 14 (movimento normal). “Sobre o Bond, pode ser dito que saiu de um escore 3 para um 5. Ele dá passos com o membro direito e começa a usar as articulações do membro esquerdo, que não utilizava antes da cirurgia”, informa Sarmento.
O cão Fred não apresentou nenhuma melhora após a intervenção. “Como o quadro deste cão era mais grave antes da cirurgia de aplicação de células-tronco, será necessário investir mais em fisioterapia, para diminuir a contratura e aumentar a amplitude do movimento”, diz o veterinário. Já o cão Bola também não apresenta uma boa resposta ao tratamento. Segundo o veterinário, há ainda dois cães recrutados e que receberão as injeções com células-tronco.

Matheus Feitosa já tem três cães selecionados. A cirurgia de aplicação de células-tronco foi feita em um deles, o lhasa apso Juquinha, em 9 de dezembro de 2010. Antes da intervenção, o animal apresentava movimento de poucas articulações, mas não conseguia suportar o próprio peso sozinho e andava arrastando as patas traseiras. “Este cão se encontrava no número 4 da escala. Com 30 dias após a cirurgia, ele passou a apoiar as duas patas sozinho e já consegue andar na esteira aquática sem nenhum apoio. Ele foi do grau 4 para o 8, e chegou até o 10”, descreve Feitosa. “Operamos outro cão, o daschund Billy no último dia 7 de junho e ele vai iniciar a fisioterapia nos próximos dias. No entanto, como apresenta obesidade mórbida, tem um prognóstico mais reservado. O escore dele está entre 1 e 2”, completa.
Seleção
Os cães foram selecionados em uma clínica de fisioterapia animal na grande São Paulo. Os proprietários passaram por uma entrevista, onde os pesquisadores apontaram os riscos do estudo. Os animais cujos donos aceitaram participar do projeto realizaram uma série de exames pré-operatórios no Hospital Veterinário de Cães e Gatos, em Osasco, na Grande São Paulo.
Os cães aprovados nos testes foram encaminhados para o exame de ressonância magnética. A quarta etapa foi a própria cirurgia. Por fim, os animais passam novamente por outro exame de ressonância magnética a fim de mostrar se houve regeneração do local onde as injeções foram aplicadas.