A cientista que curou seu próprio cérebro

em 29 de janeiro de 2010





Acabei de ler um livro inspirador. A cientista que curou seu próprio cérebro é um daqueles livros que nos faz bem. Não, não é um livro de autoajuda, esse nem é meu tipo de leitura.
Ele conta a história de Jill Bolte Taylor, uma neurocientista que aos 37 anos sofre um derrame que deixa sequelas graves e narra sua luta para reprogramar sua mente. Irônico, né? Uma neurocientista que agora se vê na situação dos pacientes que ela sempre tratou. Ao longo de oito anos, Jill lutou para recuperar sua total capacidade.
Mas o que mais me marcou no livro nem foi a luta em si para se recuperar do derrame, e sim a jornada de autoconhecimento que a autora percorre ao analisar o funcionamento do cérebro humano. O mais legal é como ela ensina que podemos ter total controle sobre a forma como encaramos a vida, apenas escolhendo sobre o que queremos pensar e a forma como queremos encarar o mundo.
Nem vou comentar muito, vou encerrar o post com uma citação do livro que me chamou bastante atenção:
"Quanto mais me mantenho consciente sobre o que meu cérebro está dizendo e como esses pensamentos me fazem sentir no plano físico, mais detenho o poder de escolha sobre o que quero pensar e sentir. Se quero preservar minha paz interior, devo me dispor a cuidar do jardim da mente com persistência e consistência, momento a momento, e devo estar disposta a tomar a decisão mil vezes por dia."
Fica aí o recado.

Wiiiiiiiiiii

em 27 de janeiro de 2010

Olha que legal o vídeo que o Jairo postou lá no blog Assim como você. A Nintendo lançou um jogo extremamente inclusivo pra o video game Nintendo Wii. Muito legal essa iniciativa.

Shit happens

em 25 de janeiro de 2010

Shit happens é uma expressão originada do inglês, que, traduzida literalmente, quer dizer: merdas acontecem. É usada como uma simples observação existencial de que a vida é cheia de imperfeições e que coisas ruins acontecem às pessoas sem nenhuma razão em particular. Mas pra quem sofreu uma lesão medular essa frase bem que poderia ser traduzida no sentido literal, como eu pude comprovar mais uma vez na última quarta-feira.
Acordei por volta de 5:30 da manhã, sentindo uma movimentação estranha no intestino e, quando dei por mim, já tava todo cagado (não é novidade, já comentei aqui que a lesão medular prejudica o controle da bexiga e do intestino). Primeira reação: pegar o celular, que estava em cima da minha cadeira (ao lado da cama) e ligar pro telefone fixo de casa pra pedir a minha mãe que viesse me ajudar.
Já chateado, pedi que ela trouxesse a cadeira de banho, pra que eu pudesse passar direto pra ela, sem sujar a cadeira de passeio. Enquanto isso, o intestino continuava funcionando, o que eu podia fazer? Quando cheguei ao cagador (vulgo: vaso sanitário) já era tarde demais, tudo que tinha que sair já tinha saído, mas ainda fiquei lá por alguns minutos pra ver se tinha algum atrasado que ainda vinha por lá. Chorei um pouco, resmungando que não aguentava mais aquilo, mas depois dei dois tapas na cara e tomei vergonha. "Porra, vai ficar aí chorando feito menininha?".
Agora, deixando o bom humor de lado. A sensação de impotência que eu sinto quando algo assim acontece e terrível. Não tem jeito, eu não consigo me acostumar a essas coisas. Já comentei em outro post, aqui mesmo no blog, que a cadeira de rodas (o fato de não poder andar) é o menor dos meus problemas, que existem outras coisas que incomodam ainda mais a vida de um lesado medular, agora vocês sabem do que eu estava falando.
Eu nunca fui muito de dividir as minhas dúvidas, meus problemas e minhas angústias com os outros, mas lendo outros blogs de pessoas em situações parecidas com a minha, achei que isso podia me ajudar e até ajudar outras pessoas. Sempre fui muito reservado, mas acho que o blog é uma maneira de partilhar algo que julgo importante. Se tem algum lesado lendo esse depoimento, gostaria de ler os seus comentários aqui no blog, ou mesmo por e-mail. E por que não ouvir os comentários de pessoas que não conhecem direito a situação? Fiquem à vontade.
Só queria dizer que isso realmente me incomoda bastante, é muito difícil conviver com as imposições da lesão medular e com o impacto que ela causa na vida de uma pessoa, é, acima de tudo, um declínio muito grande na qualidade de vida. É possível conviver com a lesão e com os inconvenientes que ela causa, mas é difícil pra caralho. Não tem jeito, eu não acostumo e, por isso mesmo, não desisto.
Voltando ao fatídico episódio... imaginem agora o trabalho que esse aleijado que vos fala teve pra limpar tudo aquilo. Depois que eu já estava limpinho e cheiroso de novo, confirmei o compromisso que já tinha assumido (ir almoçar com minha cunhada Lidiane e a família dela em Itabaiana), botei um sorriso na cara e fui enfrentar mais um dia.
SHIT HAPPENS AND IT SUCKS!

Dependência

em 4 de janeiro de 2010

Estive refletindo um pouco a respeito da dependência, porque esse é um dos aspectos que mais me incomodam na lesão medular. Do ponto de vista de um lesado medular eu sou extremamente independente, realizo todas as minhas atividades da vida diária sozinho, faço todas as minhas transferências, dirijo meu carro, etc. Mas por mais independente que se torne, o lesado medular passa a depender de ajuda pra realizar tarefas simples que antes realizava sozinho.
Eu sempre prezei pela minha independência e por isso tive (e ainda tenho) dificuldade pra aceitar ajuda, principalmente pra realizar tarefas simples, prefiro tentar sozinho e pedir ajuda quando realmente não consigo. No blog da minha amiga Juliana, li uma frase interessante uma vez: "Lesão medular é pós-graduação em humildade". E, quer saber? Ela está coberta de razão. A lesão medular te ensina (melhor seria dizer: te força a aprender) a aceitar ajuda para aquelas pequenas atividades do seu dia a dia; aquelas que você conseguia fazer sozinho, mas que agora...
Confesso que ainda tenho um pouco de dificuldade, acho uma merda depender dos outros, mas já melhorei bastante. É verdade que sou bastante independente pra um cadeirante, especialmente um que tenha uma lesão tão alta quanto a minha (C7), mas ainda não acho suficiente. Aprendo dia após dia a conviver um pouco melhor com essa dependência, mas sinto falta da autonomia que tinha antes da lesão. Sinto falta de trocar a lâmpada que fica no teto, caminhar na areia fofa da praia, carregar uma caixa nos braços, subir escada degrau por degrau... Sinto falta da minha total independência.
Não que depender de ajuda seja indigno ou vergonhoso, de forma alguma, mas às vezes é chato precisar ser carregado, por exemplo. Sei que minha família, meus primos, meus amigos e as pessoas em geral (pelo menos a maioria) estão sempre dispostos a me ajudar e fazem isso com a maior boa vontade, mas eu gostaria de poder fazer sozinho. É importante pra mim conseguir ser o mais independente possível e, quando eu nego ajuda, sempre agradeço a boa intenção, mas é porque acredito que vou conseguir sozinho. E acredito que é assim com todo lesado medular, porque todo mundo quer se sentir útil, independente, autônomo.


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