FSEA

em 26 de setembro de 2009


Pessoal, tenho uma novidade. Ainda não tive a oportunidade de comentar aqui no blog, mas há alguns meses, dei início a um projeto: FSEA - Federação Sergipana de Esportes Adaptados. Tudo partiu da iniciativa de um amigo meu, o Halyson, que perdeu a perna em um acidente de trabalho numa mina da Vale, cerca de dois anos depois do meu acidente.
Enfim, o cara teve a idéia de criar uma associação com objetivo de fomentar a prática esportiva entre os portadores de deficiência e, sabendo da idéia, comecei a ajudá-lo. Corremos atrás do necessário, entramos em contato com a Secretaria de Esporte e Lazer de Sergipe e, depois de muita insistência, muita espera, conseguimos uma sala no complexo esportivo do Batistão pra ser a sede da Federação. Pra quem não conhece Aracaju, o Batistão é o estádio estadual de futebol daqui e lá dentro existem algumas salas onde funcionam algumas instituições.
Bom, segunda-feira pela manhã eu vou lá com ele receber (ou pelo menos tentar) a chave da sala pra começar os trabalhos. Já fiquei sabendo que a sala tá uma bagunça, cheia de entulho, precisando de uma pintura e de serviços na instalação elétrica. Mas isso é o de menos, o mais difícil nós já conseguimos. A pintura e a instalação elétrica vão ficar por conta da Secretaria, isso já nos foi garantido pelo secretário em pessoa, mas eu espero que não demore. Sabe como são essas coisas de política né? Esperamos meses pra receber a sala que já tinha sido prometida, agora vamos ver se não demora tanto pra tê-la em condições, digamos... habitáveis.
É ou não é uma boa notícia? Nós temos várias idéias, vários projetos em mente pra desenvolver e colocar esse povo sem braço, sem perna, de cadeira de rodas, muleta, que não enxerga ou não ouve... pra se movimentar. Sei que não vai ser fácil colocá-los em prática, mas tudo parte de uma idéia, né não? Assim como conseguimos criar a federação, agora vamos correr atrás do governo e da iniciativa privada pra apoiar essa causa nobre.
Estou juntando material de escritório e se alguém aí tiver alguma coisa que possa ajudar (um bureau, cadeiras, sofá, mesa, computador, etc) é só dar um alô aqui pelo blog que eu vou agradecer muito. Bem pessoal é isso. O que vocês acham?

Viagem

em 16 de setembro de 2009

Segunda-feira cheguei de viagem. Fui à Campina Grande-PB visitar a muié. Ainda não comentei sobre a minha namorada aqui no blog, o nome dela é Andréa, e sim, nós namoramos à distância. Não satisfeito com todas as dificuldades que a lesão impõe, ainda arrumei um namoro a distância. Complicado né? Mas não tem problema, ela tem feito valer a pena.

Vamos falar da viagem, que é o que interessa. Viajar é sempre uma missão complicada pra um aleijado, seja qual for o meio de transporte (dessa vez fui de avião). Aqui em Aracaju os problemas começam ainda no aeroporto, onde a estrutura não ajuda. Pra começar o aeroporto daqui não dispõe dos fingers (aqueles túneis que nos levam da sala de embarque direto pra o avião), o jeito então é ser carregado. Imaginou a cena? Lá vai o malacabado sendo carregado escada acima por dois marmanjos, correndo o risco de cair e ficar ainda mais estropiado. Mas, se não tem outro jeito... O avião já é um problema em si. Apertado e de difícil acesso, a cadeira sequer chega na primeira fileira de poltronas, na maioria dos modelos. E o mamulengo é carregado de novo e colocado na poltrona. Muito agradável!

É a terceira vez que vou visitr Andréa em pouco mais de sete meses de namoro e quando estou lá me hospedo no apartamento da avó dela, que não mora na cidade. Detalhe: o apartamento não é adaptado. Imaginou a cena de novo? Lá vai o aleijado tentando entrar no banheiro, mas a cadeira não passa na porta. A solução é montar a cadeira de banho dentro do banheiro e fazer um malabarismo, trazê-la pra perto da porta e passar da minha cadeira (que está do lado de fora) diretamente para a que está dentro. Espetáculo digno do Cirque du Soleil!

Campina Grande é uma cidade do interior (apesar dos habitantes não gostarem de admitir kkkkkk!) e, como tal, não está preparada pra receber os estropiados. Mas isso não é uma realidade exclusiva de lá, acontece na maioria dos lugares. Enfim, as dificuldades continuam pra ir pra qualquer lugar, os mesmos problemas de sempre.

Tudo isso sem contar com os olhares de estranhamento das pessoas. Olhares do tipo: "Aquela menina namora com aquele aleijado?". Faz parte, já estou acostumado e, na verdade, isso nunca me incomodou. Essa parte eu tiro de letra!

Fora isso foi tudo bem, já estou acostumado com as dificuldades e já saio de casa sabendo o que esperar. Claro que tudo isso enche o saco e às vezes até desanima de sair de casa, mas se a gente não enfrentar vai viver trancado a vida inteira, sem botar a cara na rua. Eu poderia listar uma série de dificuldades que enfrentei lá e em outras viagens, mas ao longo do tempo (e das novas aventuras) vou contando pra vocês.

Como diria o Pernalonga: That's all folks! Um abraço e até breve.

Movimento AVAPE pelo respeito

em 5 de setembro de 2009

A falta de respeito é uma deficiência grave.

O menor dos meus problemas.

em 3 de setembro de 2009

Quando a gente pensa em paraplegia ou tetraplegia, a primeira coisa que vem à mente é a falta de movimentos, ou seja, que aquela pessoa não vai mais andar. Mas, de todos os inconvenientes que a lesão medular acarreta, talvez esse seja o mais fácil de conviver. Claro que deixar de andar é muito ruim, um fator extremamente limitante, mas se tem uma coisa que esses três anos me ensinaram é que existem problemas ainda maiores.
Pra quem não sabe, a lesão medular afeta todas as funções que estão localizadas abaixo dela, e quanto mais alta a lesão, mais limitante ela pode ser. Além dos movimentos, a lesão prejudica uma série de funções controladas pelo nosso cérebro, entre elas o controle da bexiga e do intestino. Se não fosse por cagar e mijar na hora errada, a vida do lesado medular seria bem mais tranqüila.
Pior que não conseguir andar, é a iminência de urinar ou defecar na hora errada, e a adaptação à nova realidade requer paciência, disciplina e planejamento. É um baita impacto na qualidade de vida, mas é preciso reaprender a conviver com o corpo pra poder retomar o convívio social. Existem uma série de adaptações pra tornar essa convivência, digamos, mais tranqüila, mas nada que resolva o problema.
Pra sair de casa eu preciso usar um coletor urinário de perna, uma espécie de bolsa que fica presa à perna, onde a urina é armazenada, que está ligada a uma mangueirinha que tem uma espécie de camisinha na ponta, quando a bolsa está muito cheia é só esvaziar no sanitário. Mas o problema não acaba por aí, como não tem mais o controle vesical, o lesado medular também precisa fazer o cateterismo pra conseguir esvaziar a bexiga por completo e evitar infecções urinárias, que podem até comprometer os rins. Sim, isso mesmo, passar uma sonda pela uretra até a bexiga (e dá um trabalho danado).




Coletor Urinário de Perna





Com a lesão, o intestino fica mais preguiçoso, mas pode funcionar a qualquer momento e sem aviso prévio. A solução é tentar condicioná-lo a funcionar regularmente pra não ter acidentes indesejáveis, cuidando da alimentação e criando uma rotina que facilite o seu funcionamento regular.
É... eu sei que parece um saco. E é mesmo, mas que opção eu tenho? Ou você se adapta ou fica trancado em casa vendo a vida passar. O que ajudaria bastante seria melhorar a acessibilidade, principalmente aumentando o número de banheiros acessíveis, mas enquanto isso não acontece, a gente vai levando como pode.
Além desses inconvenientes existem vários outros que dificultam a vida de um lesado medular, mas não vão faltar oportunidades pra falar a respeito. Por pior que a cadeira de rodas pareça, talvez ela seja o menor dos meus problemas.


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