Inclusão?

em 19 de fevereiro de 2013


O que fazer quando o poder público, que deveria trabalhar pela inclusão da pessoa com deficiência, passa a segregar os cidadãos? Vamos aos fatos. No dia 17 de março será realizada a 30ª Corrida Cidade de Aracaju, data em que é comemorada a mudança da capital de Sergipe: de São Cristovão (a 4ª cidade mais antiga do Brasil) para Aracaju. Bom, a corrida tem um contexto simbólico e é o ponto alto das comemorações, já que os atletas fazem o percurso entre as duas cidades, num total de 25 km.
Acontece que o evento, realizado pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da nossa capital quer impedir a participação de atletas com deficiência na prova. Com o argumento de... qual é o argumento, mesmo? Ah, tá. Não existe... No ano passado, eu e outro atleta, Ulisses Freitas, estávamos inscritos na competição, e já houve então alguma resistência. Nos fizeram assinar um termo de responsabilidade confirmando o nosso interesse em participar da corrida e declarando ciência de que não foram tomadas as medidas necessárias para a nossa participação. No dia anterior eu adoeci e infelizmente não pude participar, mas Ulisses compareceu e adorou ter feito o percurso, disse que foi gratificante.
Enfim, passado um ano e sabendo do interesse dos atletas com deficiência em participarem da prova, nada foi feito. A desculpa da falta de preparo já não cola, até porque a única exigência feita é que a largada destes seja feita antes e de forma separada, para segurança de atletas e paratletas. No mais é comer asfalto. Pessoal, isso vai de encontro a tudo que vem sendo feito no mundo. A presença dos paratletas engrandece o evento e torna a prova mais bonita e atraente aos olhos do público.
Soma-se a isso uma ideia retrógrada de imputar incapacidades às pessoas com deficiência. Nos foi privado o direito de participar da prova, mas, assim como ano passado, será realizada uma corrida paralela com a distância de, pasmem, 3 Km. Desculpem a falta de modéstia, mas sinceramente, não dá nem pra aquecer o braço. Uma cidade que tem um programa de bolsa-atleta, que visa formar atletas (e paratletas) de nível olímpico se prestar a um papelão desses não tem cabimento. 
Tenho feito de 30 a 40 km nos treinos realizados diariamente e não posso participar de uma corrida de 25 km? As corridas de rua e competições de paraciclismo que tenho participado no estado e fora consideram um privilégio ter atletas com deficiência na competição. As etapas da Copa Brasil de Paraciclismo do ano passado eram divididas em dois dias, no primeiro percorre-se 15 km no CRI (Contra-relógio Individual) e no segundo dia a prova de resistência tem, em média, 60 km (isso no caso da categoria que participo na handbike, outras categorias têm distâncias ainda maiores). Mas aqui a coisa é diferente. 
Bem, amigos... Pode isso, Arnaldo?

A regra é clara, preconceito não pode!

Enfim, estamos tentando chegar a uma conclusão. Justificativa não existe, isso é pura segregação. O que só faz aumentar o preconceito e o estigma de que as pessoas com deficiência são incapazes. Não gosto de frases feitas, mas essa traduz bem o espírito desse post:

"Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência que é o dono do seu destino".
Nesse contexto quem é o deficiente? Vale a reflexão. Qualquer novidade eu conto por aqui.

Beijo nas crianças.






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