Fantástico

em 26 de novembro de 2009

Segunda feira, quando eu estava na academia (sim, aleijado também malha), Junior, o instrutor, perguntou se eu tinha visto a matéria sobre tetraplegia no Fantástico e recomendou que eu visse. A matéria contava duas histórias (da Camila e da Kristie), ambas receberam diagnóstico de tetraplegia e conseguiram recuperações surpreendentes, no caso da Kristie uma recuperação quase completa. Mas o que me chamou mais atenção foi uma declaração dela, com a qual eu me identifiquei muito:
“Uma das coisas mais frustrantes de quando você fica preso numa cadeira de rodas é que tudo é lento, tudo é devagar. Então só o fato de você estar em velocidade em cima de um cavalo, ter o vento no rosto, o cabelo voando, então isso triplica a intensidade desse bem-estar para uma pessoa que já ficou presa numa cadeira de rodas do que para outra”
Hoje Kristie joga pólo, daí a declaração a respeito do cavalo. É a mais pura verdade, quando você está numa cadeira de rodas tudo é mais demorado, até o simples ato de vestir a roupa se torna uma tarefa demorada. Todo dia quando acordo, eu olho a cadeira ao lado da cama e tenho que encontrar motivação pra levantar da cama e começar o meu dia, isso se repete há mais de três anos. Mas por quê?
Porque eu já sei como o dia vai começar, a briga com a espaticidade (que pela manhã está muito forte), a dificuldade e a demora pra tomar banho, pra me enxugar, o tempo que eu levo pra fazer o cateterismo... É toda uma programação que ninguém conhece, mas todo lesado medular enfrenta diariamente. Pra vocês terem uma idéia, eu tenho que acordar duas horas antes de sair de casa pra conseguir fazer tudo isso e tomar café da manhã com tranquilidade.
Dá pra ter uma idéia do drama? Por isso eu fico puto toda vez que a minha mãe fala que eu demoro muito pra tomar banho, me vestir, etc. Acabou aquela moleza de alguém me ligar e dizer: "Vamo pra não sei onde? Passo aí em meia hora pra te pegar." Já era papito! E não é porque eu fico escolhendo a roupa mais apropriada pra situação ou penteando os cabelos que teimam em continuar na minha cabeça. Não, é porque a lesão não me permite!
Sabe que às vezes até desisto de sair com preguiça de passar por esse processo todo? Mas não é má vontade, é que agora meus braços têm que dar conta do trabalho do corpo inteiro e isso cansa, sobrecarrega... e demora. Portanto, tenham mais paciência com seus aleijados queridos!

Pra quem tiver curiosidade:

Basquete em cadeira de rodas

em 20 de novembro de 2009

Bom, já comentei aqui mesmo no blog a respeito da Federação Sergipana de Esportes Adaptados, um entidade que eu e um amigo criamos pra fomentar a prática dos esportes adaptados no estado, já falei também que treino basquete em cadeira de rodas no único time que temos aqui em Sergipe. Logo que eu conheci o pessoal, em abril de 2009, viajei com eles pra o campeonato regional que ia ter em João Pessoa, na ocasião eu ainda nem treinava, fui apenas pra conhecer o esquema. Diel, o idealizador do grupo, tinha a idéia de fazer um vídeo promocional pra ajudar a conseguir apoio e me perguntou se eu não podia ajudar. Peguei emprestada a câmera do meu irmão, o pouco conhecimento que eu tinha de edição de vídeo e tentei fazer o filme. O resultado vocês vêem a seguir, são depoimentos, cenas dos jogos e momentos marcantes (dividi o filme em duas partes, que no total têm aproximadamente 15 minutos). Aguardo os comentários. Abraços!

Seleção Sergipana de Basquete em Cadeira de Rodas - parte 1





Seleção Sergipana de Basquete em Cadeira de Rodas - parte 2




A Fantástica Fábrica de Biscoitos.

em 17 de novembro de 2009

Bom, nesse fim de semana tive mais uma aula do meu MBA. Digo, fizemos uma pequena excursão. Como a aula era de logística, o professor resolveu nos levar à fábrica da Mabel (os biscoitos) pra que pudéssemos conhecer e fazer uma análise dos processos. Dito isso, vamos ao que interessa. Lá vou eu de carro para o lugar combinado, estaciono, tiro e monto a cadeira  e sigo para encontrar o pessoal e ir para o ônibus (era aqui que eu queria chegar). Como a fábrica fica em outro município, esse foi o meio escolhido.
Eu já sabia que iríamos de busão, portanto já esperava pelo sufoco. Como a grande maioria dos ônibus não são adaptados eu já sabia que teria que passar por isso. Então, lá vai o aleijado sendo carregado por dois coleguinhas até a poltrona na primeira fila. O problema é que não é nada agradável ser carregado, além de não ser muito seguro, especialmente subindo a escada de um ônibus.
Chegando na Mabel fui mais uma vez carregado pra fora do ônibus e colocado sentadinho na minha cadeira. O passeio deveria começar com a exibição de um vídeo institucional, que aconteceria em uma sala no primeiro andar, mas eis que para a minha "surpresa"... advinha! Não tinha elevador, é claro. Vídeo cancelado, ninguém pôde ver o filme por causa do estropiado aqui (ou seria por causa dos responsáveis pela fábrica, que não pensaram na acessibilidade?). Tudo bem, meus coleguinhas são legais e não se incomodaram.
Passeamos pela fábrica, vimos os biscoitos passeando pela esteira, fizemos piadas sobre as rosquinhas (sim, um dos produtos mais conhecidos da Mabel são as rosquinhas),  piadas do tipo: "Tio, fiquei sabendo que semana passada um funcionário foi demitido por queimar a rosca. É verdade?". Enfim, aprendemos brincando. O restante do passeio se deu sem maiores problemas de acessibilidade, mas como meu amigo Messias foi de carro pra lá, decidi voltar com ele pra não precisar ser carregado de novo. Essa é a minha história, comédias da vida aleijada (em homenagem ao blog da minha amiga Ju).

Mais um depoimento

em 10 de novembro de 2009

Bem, já falei que não sou um grande espectador de novelas, mas os depoimentos de Viver a Vida não podem ser ignorados aqui no blog, principalmente quando é um com que eu me identifico por ter alguma coisa a ver com o nosso assunto aqui. Esse é o depoimento da Camila Lima, que teve uma lesão em C6/C7, na coluna cervical, assim como eu, e também foi diagnosticada como tetraplégica, mas recuperou os movimentos dos braços e vem conseguindo muitas coisas ao longo desses anos (igual a alguém que eu conheço :) ). É isso aí, força Camila!

Muito inteligente.

em 9 de novembro de 2009

Com a colaboração da minha leitora (muito chique, hein?) Silvia Gomes, que tirou essas fotos no aeroporto de Guarulhos e lembrou do blog. Vê se pode? Os caras colocam duas rampas super bem feitas e, entre as duas, uma corrente, impedindo o estropiado de passar. Olha lá!




SMS

em 8 de novembro de 2009

Ontem cheguei em casa 3:00 da manhã, fui pra o Subúrbia, um lugar legal aqui em Aracaju onde tocam algumas bandas de pop rock. O lugar foi reformado há pouco e está bem acessível, a exceção é a rua na frente que é bem ruim. Bom, fiquei lá conversando com meu irmão e duas amigas, Chris e Íris, por um bom tempo e ouvindo uma das bandas tocar. Mas depois comecei a ficar um pouco triste, chateado com a situação, sabe? Eu tava frustrado com as situações que a lesão me impõe. Na maioria das vezes eu resisto em sair de casa e ir pra esses lugares porque sempre é um pouco frustrante lembrar como as coisas eram antes e como são agora, mas vocês sabem como é... Mesmo assim é preciso sair um pouco pra distrair, então eu insisto.
Resumindo... Resolvi voltar pra casa por volta de 2:30 da manhã. Triste, frustrado, precisando desabafar. Como não gosto de conversar muito decidi mandar um SMS pra Andréa, minha namorada. Era só um jeito de colocar pra fora o que eu estava sentindo:

"Voltei. É estranho como eu tento aproveitar esses momentos, mas por mais q eu tente eles são sempre frustrantes. Não consigo aproveitar essas saídas da mesma forma q antes do acidente, eu quero, mas n consigo. É mto ruim ter q tomar umas cervejas com um saco enchendo de xixi amarrado na perna pq vc n consegue parar de mijar, é ruim ter q ficar sentado num lugar q tá todo mundo de pé e pulando. Não sei..."


Ela acordou e me ligou, mas expliquei que preferia não conversar, foi só uma maneira de desabafar. Eu só queria mesmo ter uma vida normal, não é querer muito. Mas fui dormir e acordei pra um novo dia.


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