Minha vida é uma adaptação.

em 8 de agosto de 2009

Não sou mais como antes, porque já não tenho a mesma autonomia sobre meu corpo. Ele não me obedece e é difícil conviver com isso, nossa relação já não é mais de cumplicidade, ele não responde aos meus comandos e tampouco me avisa o que acontece com ele, não nos comunicamos muito bem. A cumplicidade de antes se transformou num conflito, e hoje existem apenas alternativas, adaptações para tornar essa convivência mais pacífica.
Como não ando com minhas próprias pernas, dependo da cadeira de rodas pra me deslocar de um lugar para outro. E o que é a cadeira, senão uma adaptação? Uma adaptação feita para suprir a necessidade que temos de nos locomover. Quando não estou na cadeira ainda consigo caminhar um pouco, com a ajuda de um andador (ou muletas) para me ajudar a manter o equilíbrio, e uma órtese que me ajuda a fixar a perna direita, já que não a movimento. São apenas adaptações, e, assim como essas, existem muitas outras.
Elas estão por todo lado. A cadeira de rodas, o andador, as muletas e a órtese me ajudam na locomoção, uma cadeira de banho permite que eu use o chuveiro, existem adaptações para que eu use o banheiro e faça minhas necessidades e tantas outras para as mais diferentes ocasiões. Hoje, a minha casa (a casa dos meus pais) está toda adaptada às minhas limitações, só assim eu posso ser independente aqui dentro. As adaptações estão por todo lado, são tantas que às vezes me pergunto se não me tornei uma delas, uma adaptação daquele Ronald de antes do acidente.
No fundo ainda sou o mesmo, apenas dependo delas pra conviver com minha deficiência. Às vezes quero ver-me livre, fingir que as adaptações não me são necessárias. Elas não me pertencem, não fazem parte de mim, mas hoje eu não consigo viver sem elas. As adaptações me perseguem, elas estão por todos os lados, preenchendo lacunas que se fizeram presentes e me impedem de comandar meu próprio corpo. Eu, que sempre busquei ser auto-suficiente, que sempre prezei pela minha independência, hoje me vejo dependente de uma parafernália pra conseguir realizar tarefas corriqueiras.
Estarei livre um dia? Acredito que sim, e é por isso que eu luto, mas por enquanto só me resta seguir em frente, não posso desistir. Vou tentar enquanto tiver forças, mas por hora tenho que me acostumar. Minha vida é uma adaptação, e eu preciso me adaptar a ela.

6 comentários:

  1. Cajuzones. Eu, como diabético, dependente de insulina e outras cositas más, te entendo e compartilho de sentimentos parecidos. Obviamente que com necessidades diferentes e com exigências diferentes. Mas o sentimento eu te garanto que é muito parecido. As vezes tem dias que só queremos que a coisa sumisse. Nós desejamos com toda a força. Mas ela tá sempre lá. Por isso admiro quem acha forças para não se conformar! Grande abraço! Martim Zveibil

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  2. Oi Ronald... Calma. A vida é feita de fases e fezes. Quanto tempo de lesão?
    Força na peruca e conta com a amiga virtual pro que precisar.
    Bjs Ju

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  3. Caju
    Tamo junto... saudades
    Xiko

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  4. Oi Ju, tenho acompanhado seu blog há algum tempo. Tenho três anos de lesão e ainda me considero em fase de adaptação, mas a vida continua bola pra frente. Sei que esse post é meio pra baixo, mas escolhi ele pq é um texto que já tinha escrito há algum tempo e acho que resume bem a forma como encaro o problema.
    Valeu pela força
    Bjao

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  5. Parabéns pela iniciativa e pelo texto. Sim, um pouco para baixo, mas (abre clichê) o que seria do vermelho se não fosse o verde? (fecha clichê) Gostei de ele ter girado em torno da adaptação, pois abre para interpretarmos o que em nossas vidas não são adaptadores que usamos para interagir com determinadas situações ou coisas q consideramos problemas. Me refiro inclusive às máscaras sociais e emocionais, uma parafernália que vestimos até sem saber. Ou se sabendo, sem conseguir tirar/se livrar. Enfim.. como diria caetano, it's a long long road.

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  6. Olá... Um desebafo, cheio de verdade e esperanças!
    Confronta-nos, certas realidades nos corta... A vida é assim, fases, só fases, e muitas adaptações! Certas adaptações poderiam nem existir, como a nossa frente a violência que só crescer, ai vai: cadeados, alarmes, condomínios, isolamento... Esse post é cheio de vida, o folego de vida que vive em vc, e não te permite parar, mesmo qd exausto ele pulsa em ti... Diz: prossiga! Forças e fé... Ah, vou ser seguidora, abraço e sucesso!

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