Madrugada

em 6 de outubro de 2009


Já é madrugada e eu estou sem sono. Todo mundo em casa já está dormindo e eu estou aqui sozinho com minhas dúvidas. Hoje eu fui jantar com uns amigos: Felippe (um amigão de longa data, acompanhado da namorada) e Paloma (amiga querida já há muitos anos). Conversa vai e conversa vem, rimos bastante, contando histórias novas e relembrando antigas. Sempre que isso acontece me vem à cabeça os velhos tempos (pré-lesão medular) e isso me traz boas lembranças, mas com elas também várias incertezas e a saudade de momentos que talvez eu não tenha de novo.
Como será minha vida daqui pra frente? Toda a minha luta é pra abandonar de uma vez por todas a cadeira de rodas, deixá-la pra traz definitivamente, mas por mais que eu insista na certeza de que isso vai acontecer, as dúvidas me perseguem. A fisioterapia, minha principal atividade nos últimos três anos, já se tornou quase insuportável, eu tento, mas não consigo mais encará-la de forma tranquila, acho que cheguei no meu limite. Amanhã ela começaria às 8 horas, mas eu não vou conseguir. Na verdade estou pensando em parar, pelo menos por um tempo. Eu queria parar definitivamente, mas, por mais que eu negue, a fisioterapia é necessária se eu almejo uma recuperação completa um dia. Preciso manter o alongamento dos meus músculos, mantê-los o mais ativos possível, nosso corpo funciona baseado na regra do uso e desuso. E o desuso é fatal.
O problema é que não consigo mais viver num eterno tratamento de saúde, insistir na fisioterapia sem trégua e sem conseguir o retorno almejado. Preciso de um tempo, vou parar e repensar os rumos da minha vida, investir o tempo livre em outras atividades que me tragam mais prazer e me façam descobrir cada vez mais coisas pelas quais vale a pena seguir em frente. Vou dar um tempo, pelo menos por alguns meses.
A vida continua e eu continuo saudoso dos velhos tempos, daqueles dias em que eu acordava, levantava da cama sem esforço e ia tomar um banho pra começar mais um dia, quando eu comandava e o meu corpo obedecia. Eu continuo acreditando, sigo cheio de expectativas, às vezes desanimo, mas não posso parar. Essa parada na fisioterapia é apenas uma pausa, vou recarregar as baterias pra poder recomeçar mais forte, sempre em busca do meu objetivo. O que eu não posso é deixar de acreditar. Já passam das 3 da manhã, agora preciso dormir.

5 comentários:

  1. Oi Ronald, lendo teu post de hj, lembrei duma história pra te contar. Meus pais são fisioterapeutas, e lá na clínica atendem muitas pessoas com lesão medular. Depois de 5 anos de tratamento quase que diário, um rapa, o João, está conseguindo agora, e somente agora, ficar de pé e andar de andador.
    Infelizmente, em alguns casos não é possível andar mais. Mas a fisio é importante pra vc ter qualidade de vida na cadeira de rodas. Dá uma passada lá no blog do Jairo:http://assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br
    Acho que vai te ajudar e vc vai gostar.
    Muita força pra vc!
    Bjs

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  2. Oi Ronald! Deve ser mesmo uma grande merda essa sensação da evolução lenta, da falta de certeza de limites..
    No entanto, quando comecei a ler seu post o que me deu uma alegria imediata foi: "Hoje eu fui jantar com uns amigos: Felippe (um amigão de longa data, acompanhado da namorada) e Paloma (amiga querida já há muitos anos). Conversa vai e conversa vem, rimos bastante, contando histórias novas e relembrando antigas." Estive em Salvador estes dias com meus amigos e passei esta mesma sensação. Aqui em Sampa, voltei faz pouco tempo, quase não tenho isso.
    Agarre essas sensações de prazer e alegria com unhas e dentes. São fontes geiger de prazer e são para poucos... Nutra-se delas o máximo que puder.
    Beijos silvia.

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  3. Valeu Bruna, minha decisão não é de abandonar a fisioterapia, simplesmente dar um tempo pra recarregar as baterias e, por enquanto, substituí-la por atividades mais prazerosas que também tragam benefícios. Estou pensando em ir pra academia e já treino basquete em cadeira de rodas.
    Ah, o Assim como você eu já conheço, é muito legal e eu acompanho sempre.
    Bjs

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  4. É isso mesmo Silvia, eu sempre me agarro nessas sensações e nas coisas que me fazem sentir bem. Elas dão mais força pra gente seguir em frente!

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  5. Caju,

    Acho que parar não é uma saída, tão pouco uma resposta. Não sei, nem consigo imaginar o quanto é difícil acordar todo dia pra uma incerteza, mas também me pergunto, em menor intensidade, se todos não acordam com essa dúvida e sentimento ruim de incertezas. Acho que você precisa lutar contra essa sentimento desabafando, dedicando mais tempo a coisas que gosta, mas não deixar de lado todo esse esforço que você já fez. Não digo isso por todos que torcem, mas pelo seu esforço.

    Um grande abraço,

    Seu colega Careca!

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