Gandulas Cadeirantes

em 21 de outubro de 2019


O jogo São Paulo x Avaí, realizado ontem (20/10/2019) pela 27ª rodada do Brasileirão foi palco de uma ação muito legal. Os gandulas do jogo foram substituídos por 10 paratletas, 7 cadeirantes e 3 com próteses, numa parceria entre o São Paulo e a MRV.
"Ah, mas isso é só uma ação de Marketing!", diriam os chatonildos de plantão... Sim, mas o que há de errado nisso? Toda e qualquer ferramenta utilizada para divulgar ideias importantes será sempre válida e muito bem vinda.
"A ação “Gandulas Cadeirantes” da MRV, criada pela agência DAVID, tem o objetivo de chamar a atenção do público para o fato de que a única barreira a ser rompida é a do preconceito.", diz o texto da matéria no site do clube, que você pode conferir na íntegra aqui. Outro trecho, que acho mais relevante diz o seguinte: “A inclusão e a acessibilidade são fundamentais. A locomoção é um direito de todos e acreditamos que juntos podemos fazer com que mais espaços sejam acessíveis”, explica Rodrigo Resende, diretor de marketing e novos negócios da MRV.
Com relação a esta última declaração, gostaria de compartilhar uma experiência própria. Acabo de voltar da Europa por conta de uma viagem que fiz com a família e cheguei com a certeza que aqui no Brasil estamos mais antenados com a questão da inclusão. Visitei cidades turísticas, especialmente na Itália, a exemplo de Roma e Florença, e passei belos perrengues em vários lugares. Apesar de algumas exceções, a maioria dos lugares deixava muito a desejar no tocante à inclusão e acessibilidade. Mas isso é assunto pra outro post, que devo dividir com vocês em breve.
Parabéns ao São Paulo e à MRV pela iniciativa, foi uma atitude de campeão. Mas, claro, o título este ano deve ficar com o Mengão.
Sem mais, vou ficando por aqui. Beijo nas crianças e SEGUE O LÍDER!

Uma "cura" colocada à venda

em 14 de agosto de 2019

Preciso começar este post com um sonoro NÃO: Não encontraram a cura para a lesão medular.
Ontem quando eu abri o YouTube tomei conhecimento da notícia de que um tratamento (supostamente) promissor para a lesão medular tinha recebido autorização para ser comercializado. De cara, o vídeo do canal Tocando a Vida, do Marcos Melo Jr., me chamou a atenção pelo título: "Venda da cura para Lesão Medular". Se você não conhece o canal vale à pena dar um espiada, o cara sempre faz vídeos muito lúcidos e esclarecedores.
Neste vídeo, o Marcos cita um artigo publicado na revista Nature, uma publicação científica mundialmente respeitada, com o seguinte título: "Japan’s approval of stem-cell treatment for spinal-cord injury concerns scientists", ou em bom português: "Aprovação de tratamento para lesão medular com células-tronco no Japão preocupa cientistas". O primeiro fato a se estranhar é a notícia ter vindo do Japão, país que é referência de seriedade, disciplina e modelos de comportamento. Mas partindo daí, já podemos chegar à conclusão de que existe gente inescrupulosa em qualquer parte do mundo. "Mas, por quê? Não é uma boa notícia?", você me pergunta...
Seria uma ótima notícia, claro. Não fosse o fato de que o experimento conduzido na "Terra do Sol Nascente" ter desrespeitado procedimentos reconhecidos internacionalmente para garantir a segurança das pesquisas em saúde.
De acordo com o artigo, 12 de 13 pacientes submetidos ao procedimento nos últimos seis meses apresentaram melhoras substanciais na capacidade de contração muscular e sensibilidade ao toque. O problema começa no fato de que 13 pacientes representam uma amostra muito pequena e seis meses um período muito curto para chegar a qualquer conclusão. A metodologia ainda foi criticada pela falta do duplo-cego, um método de ensaio clínico no qual nem os médicos nem os pacientes sabem quem está recebendo o tratamento experimental e quem está recebendo um placebo.

Um placebo (do latim placebo, que significa "agradarei") é um fármacoterapia ou 
procedimento inerte, que apresenta, no entanto, efeitos terapêuticos devido aos efeitos psicológicos da crença do paciente de que ele está a ser tratado.

O objetivo é garantir a eficácia do tratamento, de forma a esclarecer se as possíveis melhoras apresentadas pelos pacientes são efeito do tratamento ou apenas motivadas por fatores psicológicos. Outro fato questionável é que todos os pacientes do grupo tinham sofrido a lesão na medula até 40 dias antes do procedimento a que foram submetidos. Nesta fase, fica difícil determinar se as melhoras obtidas se devem ao procedimento em si ou são melhoras espontâneas decorrentes dos tratamentos convencionais e da fisioterapia.
Apesar desses e de outros problemas da metodologia aplicada no estudo, há uma grande questão ética. Afinal de contas não é moralmente justificável cobrar dos pacientes por terapias cuja eficácia ainda não foi comprovada e que podem apresentar riscos.
De toda sorte, não quero aqui bancar o pessimista. Eu adoraria receber a notícia de uma cura, ou mesmo de um tratamento eficaz que resolvesse ao menos uma parte dos problemas que vêm com a lesão medular. Mas acho que tem muita gente por aí disposta a se aproveitar do desespero e da fragilidade das pessoas para ganhar alguma vantagem.
O artigo, em inglês, foi publicado em janeiro deste ano, mas só chegou ao meu conhecimento agora pelo vídeo do Tocando a vida e está lincado logo acima pra quem quiser dar uma olhada e saber mais a respeito. No mais, é isso aí. Beijos nas crianças e até a próxima.


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